Da casa da minha avó Maria, mãe do meu pai, me lembro de muitas coisas.
Aliás, são lembranças muito boas, de uma época em que a minha imaginação de criança trabalhava muito. Praticamente "O fantástico mundo de Bobby".
Era um sobrado ao lado da fábrica de buzinas da família. Na época meu pai e seus irmãos trabalhavam todos juntos, então a casa virava uma creche, cheia de netos da Dona Maria.
O nosso lugar predileto para travessuras era o sótão, lembro-me que o ambiente era muito agradável, batia sol e era arejado. Tinha redes espalhadas de disputávamos, muitas fotografias, até mesmo um telescópio para admirar as estrelas, mas o que gostávamos mesmo era de "admirar" a vizinhança.
Era o canto do tio conhecido como Roberval. Tinha dó dele por ter esse nome, ficava imaginando como minha avó teria escolhido nomes comuns como Fábio, Sidney, Simone, Sérgio e depois teve a infeliz idéia de dar o nome Roberval? Coitado, fiquei muito tempo acreditando que esse era realmente o nome dele, mas para o meu alívio, descobri que era apenas seu apelido, seu nome é simplesmente Roberto.
Para mim o sótão era dono de dois mistérios. Um deles era a velha escada de ferro, que tinha que descer de costas para que não acontecesse nenhum tipo de acidente, pois era muito ingrime. Bastava minha avó saber que um de nós esteve lá, a primeira coisa que ela queria saber é se descemos de costas, e falava tanto sobre isso que para mim, descer de costas era uma espécie de ritual sagrado, achava engraçado, mas gostava do mistério.
O outro era meio sombrio, havia uma salinha dentro do sótão que tinha na porta uma daquelas placas de aviso dizendo “Perigo” com desenho de uma caveira. A sala estava sempre trancada, porém ora ou outra, trafegava algum funcionário da fábrica carregando um saco preto com materiais para estocar, mas nunca era permitida a entrada de crianças. Concluí e repassei a informação para os mais novos que o corpo do meu avô falecido ficava lá, e que por ainda sermos crianças, não poderíamos ver tal cena.
Mas essas são lembranças com as quais me divirto, acho especial a forma como entendemos ou tentamos decifrar as coisas quando crianças.
Tem uma coisa que achava um bocado estranho.
Eu e minha irmã às vezes brincávamos com a neta de uma amiga da minha avó, que era sua vizinha de frente. Não me recordo o nome da menina, mas sei que ela nunca tinha com quem brincar, além de nós duas; nem irmãos, nem primos da mesma idade. Não existia nenhum problema em brincarmos com ela, era saudável, natural, o que me assustava era a hora em que íamos embora, a avó dela abria o portão com muito cuidado para não fazer barulho e partíamos escondido da garota. Porque no que dependesse dela, nós não podíamos ir embora, ela não queria ficar sozinha, sem ter outra criança para acompanhá-la nas brincadeiras, e se nos visse partir, fazia um escândalo, segurava em nossos braços chorando e dizendo que não queria. Era nesse momento que eu sempre me arrependia de ter ido até lá.
Recordo-me também das famosas festas da Rua das Camélias que eram realizadas na casa da minha avó, sempre organizadas pelo Tio Roberval. Não eram festas familiares, tão pouco recomendadas para menores de 18 anos, eram do tipo “Sexo, drogas e... (não me lembro a música que escutavam)”. Só sei que a rua era tomada por carros dos convidados, era a maior zona, até que um dia uma prima minha teve uma brilhante idéia: - Já que não podemos participar da festa, podemos ganhar dinheiro para cuidar dos carros!
E lá foi a bobinha aqui seguir a brilhante idéia, até a hora que minha mãe percebeu que nós não estávamos no quintal da frente brincando, e sim na rua como “flanelinhas”, aí a bronca foi feia, se bobear, tiveram até os famosos chinelos voadores de Dona Lú. Esses famosos ficam para uma outra história.
Primos na casa da Vó Maria : Eu, Felipe (meu
irmão), Leo, Alessandra e Rodrigo.
Oi Nathy,
ResponderExcluirAdorei seu blog. Você leva muito jeito para escrever. Sabe como cativar as pessosa com sua prosa. Você tem um grande coração e muito gosto pela vida. Continue assim. Muitos beijos da tia Cely
Ola adorei ler sobre a Rua das camélias e relembrar os momentos da minha infância que passei por lá e tive o privilégio de conhecer seus avos e tios principalmente D.Maria com a sua inesquecível torta de uva, que ate hoje mais de 30 anos lembro do aroma que ultrapassava os muros e fazia com que eu desse um jeito de ira ate lá.
ResponderExcluirFreqüentava muito a casa de seus avos e o maravilhoso sótão e a fabrica, lembro ainda do funcionário Zé Bahiano sentado em frente ao muro de pedra.
Foi muito bom lembrar de todos.
Meu nome e Sandra, na época Sandrinha, sobrinha da Flora que morava na casa do Ferreira.
Grande abraço a sua família